Páginas

25.11.12

Como se nada existisse, ela me olhava. Eu não dizia nada. Ficava na minha. Era coisa que ela fazia; isso de me encarar. E era uma coisa tão dela que simplesmente deixava. Aí depois de um tempo, depois de eu quase enrubescer, alguma coisa besta puxava a conversa. Normalmente ela mesma, só pra tentar me deixar constrangido, comentava que eu não conseguia me deixar – eu sempre entendi que a palavra ‘olhar’ completava essa frase sem que fosse necessário pronunciá-la. Nessa noite ela me olhou sério. Eu fingia vergonha, como já fiz outras vezes depois de perceber que era isso o que a fazia sair do quase transe de me observar. Marcela me falou que percebia meu fingimento. – Tu sabe por que eu te olho tanto? – Não. Na verdade nunca me perguntei. – Eu mesma sempre me pergunto. Fim das contas acho que é pra te conhecer. Tu não consegue se deixar. E assim eu fico achando que não te conheço. Eu fiquei surpreso. Não sabia o que falar; se é que há algo que se possa dizer. Tentei jogar um ‘mas nem eu mesmo me conheço’, mas ela me cortou. Se fosse isso não seria problema. O problema, ela disse, é que parece que eu finjo sempre, que me escondo. Depois disso não disse mais nada. Nem ela nem eu. Não sei o que se subentendeu, nem penso nisso. Eu só queria acabar com aquela conversa. Ela precisava sair, tinha aula. Eu ia ficar em casa, fingindo que estudava enquanto via vídeo na internet.